Em Olhão, era tradição a ementa da consoada ter como prato principal o litão seco ao sol.
Ramalho Ortigão (1836-1915), escrevendo de Paris, afirmava com convicção e orgulho que “há um só banquete que desbanca todos os jantares de Paris, mas que os desbanca inteiramente: é a ceia da véspera de Natal nas nossas terras do Minho”.
O escritor evoca o calor da casa familiar em contraste com o frio gelado da rua, ouvir o vento a assobiar enquanto na cozinha ardia a grande fogueira e se fazia sentir o aroma do vinho quente fervido com mel.
No Minho o bacalhau é cozido com batatas, ovos, cenouras e couves pencas, tudo regado com azeite. Há quem inclua na refeição os bolinhos de bacalhau, o polvo cozido ou guisado com fatias de pão fritas e o arroz de polvo. Nos doces, leite-creme, rabanadas, filhoses, mexidos, arroz-doce, aletria, milhos doces, sonhos…
Tradicionalmente, no Minho, Douro Litoral, Alto Douro e Trás-os-Montes e Beira Alta a consoada, pequena refeição que se toma à noite, nos dias de jejum, vinha (em muitas localidades ainda vem) antes da meia-noite e por isso, era de abstinência, pois desde a Idade Média o calendário cristão «obrigava» a jejuar entre o dia de Todos os Santos e o dia de Natal. Assim, dava-se preferência ao bacalhau, polvo, pescada ou congro.
A sul do rio Tejo, nomeadamente em algumas regiões alentejanas, a celebração ainda é feita depois da meia-noite pelo que a tradição já permitia colocar sobre a mesa as carnes de porco fritas. Antes, os mais pobres “jantavam normal”, que podia ser uma sopa de feijão com couve. No dia 25, como era de festa, cabidela de galinha ou galo, ou galinha acerejada.
Já a tradição da chamada roupa velha, para aproveitamento dos restos do bacalhau, batatas e couves da ceia, ter-se-á iniciado a norte de Portugal, estendendo-se depois um pouco por todo o País.
No Algarve, a tradição mandava comer lombo com amêijoas, mas em Olhão, era tradição a ementa da consoada ter como prato principal o litão, geralmente guisado com batatas e tomate. Peixe da família do cação, o litão é seco ao sol, depois de esfolado e aberto ao meio.
Era sobretudo quando não havia dinheiro que o litão substituía o bacalhau nas mesas da consoada das famílias de Olhão.
Além do porco, servido com acompanhamentos que lembram o moderno cozido à portuguesa, era o galo – e não o peru –, o rei da consoada algarvia. As couves, o grão e os milhos eram a alternativa dos menos abastados.
IN: Jornal dos Sabores