Contestação a um McDonald’s fez ‘nascer’ um movimento que está presente em mais de 150 países.
As referências ao ‘fast food’ sempre que falamos de comida rápida fazem parte do nosso dia a dia. Normalmente surgem em relação a alimentos que consideramos pouco saudáveis, mais até pela sua composição do que pela rapidez da confeção.
Já a sopa da avó, com a panela em cima da trempe, ao borralho na lareira durante muitas horas, é um dos exemplos de comida feita lentamente e com ingredientes saudáveis. Podíamos chamar-lhe ‘Slow food’ (comida lenta) por simples tradução, mas na verdade a expressão é hoje um movimento mundial com presença em 160 países.
Origem do Movimento ‘Slow Food’
O movimento slow food teve início em 1986, na sequência de um protesto contra a tentativa de construção de um McDonald’s na Piazza di Spagna, no coração de Roma. Pode dizer-se, portanto, que o fast food ‘pariu’ o slow food.
Criado por Carlo Petrini, tem como objetivo garantir o direito de abrandar o tempo de produção de alimentos e a aplicação de preços justos para produtores e consumidores.
O Movimento Slow Food acredita que os alimentos estão ligados a muitos outros aspetos da vida, incluindo a cultura, a política, a agricultura e o meio ambiente e também que através das nossas escolhas alimentares podemos influenciar, coletivamente, a forma dos alimentos serem cultivados, produzidos e distribuídos, gerando, assim, uma grande mudança. Uma mudança que muitos acreditam ser agora mais viável, em resultado dos ‘sinais’ que a crise pandémica nos tem transmitido. Será?
Na verdade, em Portugal teríamos muitas razões para mudar alguns comportamentos, nomeadamente através da aquisição de mais (muitos mais) produtos do nosso mundo rural e da pesca sustentável, por exemplo.
Quando Carlo Petrini – que conhece a realidade alimentar e gastronómica de muitas dezenas de países – esteve em Portugal, afirmou que o património agroalimentar de Portugal “merece mais consideração, sobretudo dos portugueses, que deveriam ter mais orgulho na sua identidade gastronómica”.
Há quem argumente que a ‘fast food’ é mais barata, mas, como diz Petrini “é preciso não esquecer o que não se paga diretamente, que é o que vai para médicos e medicamentos”.
Muitas vezes se critica este tipo de movimentos porque são exagerados nas reivindicações ou mesmo algo ‘fundamentalistas’, mas basta lembrarmos o que diziam os ambientalistas há 10 e 15 anos, para percebermos como tinham (têm) razão.
Os 3 princípios do Movimento ‘Slow Food’
A abordagem do Movimento ‘Slow Food’ assenta nos três princípios interligados: bom, limpo e justo.
BOM: uma dieta de alimentos frescos e sazonais, que satisfaça os sentidos e seja parte da cultura local.
LIMPO: produção e consumo de alimentos que não prejudiquem o meio ambiente, o bem-estar animal ou a saúde humana.
JUSTO: prática de preços que sejam acessíveis para quem consome e condições de remuneração que sejam justas para quem produz.
imagem: Slow Food Brasil
Fonte: Jornal dos Sabores