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Aumentando a Visibilidade das Mulheres no Setor Agroalimentar

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O Agroalimentar português sempre teve mulheres empreendedoras. Talvez a mais icónica, tenha sido a carinhosamente apelidada de “Ferreirinha”. Antónia Adelaide Ferreira, no século XIX mudou para sempre a produção vitivinícola no Douro e no nosso país. Essa tradição mantém-se hoje no setor vitivinícola bem representada, com nomes como Luísa Paciência (Casa Paciência), Fernanda Zuccaro (Quinta Alta), Teresa Barbosa (João M. Barbosa), Teresa Nicolau (Solar dos Loendros), Anca Martins (Adega Casal Martins), Rita Vidal (Casal das Freitas), Martta Reis Simões (Quinta da Alorna), ou Leonor Freitas (Casa Ermelinda Freitas).

Contudo, as mulheres são, frequentemente, o rosto anónimo e enrugado como os solos que cultivam, nos campos da agricultura familiar por esse Portugal adentro. É em homenagem a estas figuras, por vezes icónicas, tantas vezes anónimas e escondidas, que o Smartfarmer – o negócio social da Oikos – vai realizar o “Vinhos & Petiscos” no mercado municipal de Oeiras, nos dias 25 e 26 de março, o mês dedicado às nossas avós, mães, esposas, madrinhas, irmãs e filhas!

 

 

Em Portugal Continental, e segundo dados do Recenseamento Agrícola de 2019, as mulheres representam 32,5% dos produtores agrícolas singulares, num total superior a 90 mil.  Na comparação de dados entre 2009 e 2019, mantém-se a representatividade de género, observando-se um ligeiro aumento da importância relativa das mulheres produtoras agrícolas (+2 p.p. que em 2009). A representatividade das mulheres produtoras agrícolas apresenta alguma variabilidade regional, sendo mais elevada na Madeira (44,8%) e mais baixa nos Açores (21,4%). A representatividade das mulheres à frente do destino das explorações agrícolas da UE28 é de 30,1%. Portugal posiciona-se acima da média da UE28 com 33,3% num ranking liderado pelos países bálticos da Letónia (45,4%) e da Lituânia (45,2%). Porém, se atendermos apenas às Sociedades Agrícolas, apenas 15% dos cargos dirigentes são ocupados por Mulheres.

 

Desigualdade de Género na Agricultura Familiar: Desafios e Oportunidades

Por estes números, é fácil depreender que, na agricultura, a representatividade das mulheres é superior nas explorações familiares, sendo a sua representatividade bastante mais baixa quando falamos em dirigentes das Sociedades Agrícolas.

Mas não é só ao nível da gestão das explorações que se observa ainda uma acentuada desigualdade. De facto, nas explorações familiares, e segundo dados recolhidos no âmbito do Projeto MAIS, em explorações dos municípios do Sabugal e São Pedro do Sul, pôde verificar-se que a desigualdade de género é um problema significativo na agricultura familiar. Tal é particularmente verificável nos lugares de tomada de decisão, onde os espaços formais e públicos são, frequentemente, dominados pelos homens. Entretanto, espaços informais e privados, como da economia doméstica e na esfera relacional do casal, são considerados iguais ou mesmo dominados pelas mulheres agricultoras. Infelizmente, o género é, por vezes, usado como motivo para desacreditar as habilidades das mulheres agricultoras, tornando a sua atividade ainda mais desafiadora.

Entrevistas com mulheres agricultoras mostram que o discurso do agricultor masculino como a “figura pública” da família ainda é verdadeiro, particularmente em tarefas agrícolas mecanizadas dominadas pelos homens. Assim, é evidente a necessidade de políticas mais sensíveis ao género que promovam igualdade de oportunidades e acesso a recursos para as mulheres na agricultura.

Além disso, a multiplicidade de tarefas e a necessidade de atender a responsabilidades domésticas são os principais obstáculos que impedem as mulheres de participar em atividades sociais e económicas. Tais padrões de deslocamento e participação em atividades derivam de papéis de género tradicionais que permanecem restritos ao espaço privado do lar.

Várias organizações internacionais reconhecem a fragilidade a que as mulheres agricultoras estão sujeitas, ao mesmo tempo em que reconhecem os benefícios que surgem da promoção da igualdade de género na agricultura familiar. A agricultura familiar é o tipo de agricultura mais comum e contribui significativamente para o sistema alimentar nacional e mundial e para a luta contra a subnutrição e a fome. Além disso, a agricultura familiar apoia sistemas agrícolas sustentáveis, baseados principalmente em práticas tradicionais e ecológicas, tornando-se um caminho para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e para o combate às alterações climáticas. São, muitas vezes, as mulheres quem mais se atreve a incorporar técnicas de agricultura de conservação, preservação de variedades tradicionais de sementes, ou a introduzir práticas de regeneração dos ecossistemas.

 

Vinhos & Petiscos by Smartfarmer no Mercado de Oeiras

Para celebrar o papel da mulher na agricultura e na gastronomia em Portugal, o evento ‘Vinhos & Petiscos’ by Smartfarmer, organizado em parceria com o Município de Oeiras e com o apoio da ACECOA, está de regresso para mais uma edição imperdível.

O primeiro piso do mercado vai encher-se de bons vinhos, queijos, enchidos, doçaria regional e muito mais, com destaque para produtos e projetos gastronómicos desenvolvidos e liderados por mulheres onde não ficam de fora as opções vegetarianas ou a alimentação sustentável, com opções de petiscos saudáveis e nutritivos para todos.

Ideal para petiscar em família ou com amigos, o evento realiza-se das 11h às 21h com degustação de produtos ao longo do dia.

 

 

Neste evento gastronómico poderá explorar as vantagens da alimentação biológica e descobrir novos sabores que o vão surpreender. Mas mais importante ainda, poderá ‘conhecer quem faz’, ficar a saber a história e origem dos alimentos e curiosidades sobre os produtos apresentados.

Com o objetivo de aproximar produtores e consumidores, de valorizar o que é nosso e promover a troca de saberes, esta edição estará organizada numa lógica tripartida:

‘Área de Mercado’, com exposição, prova e venda de vinhos e de produtos gastronómicos de várias regiões do país;

 ‘Área de Petiscos’, dedicada a projetos gastronómicos do concelho (startups, mercearias gourmet, restaurantes entre outros) com petiscos para consumo no local com preços a partir dos três euros;

‘Atividades Paralelas’, que incluem provas comentadas, tertúlias, workshops entre outros com sede no concelho, e enquadra-se no âmbito do seu negócio social SmartFarmer que apoia a comercialização de produtos de pequenos e médios produtores nacionais.

O evento é de entrada gratuita e, na edição deste ano, cinco por cento das receitas vão reverter a favor do “Programa de Apoio Alimentar, que consiste na aquisição e distribuição solidária de cabazes de frescos a famílias carenciadas.

 

João José Fernandes