Cadernos de Campo

Antes do vinho, a videira

videira

Sabia que existem, no mundo, mais de seis mil variedades de videiras?

Bem, é verdade que nem todas são do género vitis e da espécie vinifera, que nos dão as uvas que servem para fazer vinho, mas não deixam de ser igualmente importantes, nomeadamente na utilização como porta-enxertos da vitis vinifera.

Exemplificando: no final do século XIX as vinhas na Europa foram invadidas pela filoxera, um inseto que ataca sobretudo as raízes das cepas, ‘matando-as’. Para evitar este tipo de problemas, planta-se primeiro o chamado bacelo (ou porta-enxerto) de uma variedade resistente à filoxera e posteriormente, faz-se a enxertia com a casta desejada.

Refira-se como curiosidade que, aquando do ‘ataque’ de filoxera, foi destruída aquela que na altura era considerada a maior vinha contínua do mundo, plantada no Poceirão (Palmela), com uma área de 2400 hectares que integravam seis milhões de cepas. A videira só começa a dar frutos três ou quatro anos depois de ser plantada e pode viver, em média, 30 a 50 anos, embora existam vinhas com bastante mais idade, de onde resultam vinhos muito apreciados e valorizados.

O ciclo da videira

De uma forma simplificada, poderemos enunciar o ciclo da videira da seguinte forma:
Após as vindimas, no final de outono, faz-se a poda. No final do inverno começam a ‘rebentar’ e aparecem os primeiros ramos. Com a subida temperatura a planta enche-se de folhas. No final da primavera começa a floração e desenvolvem-se os cachos. Em meados do verão começa o amadurecimento, com os bagos a aumentarem de volume. Com a chamada maturação, verifica-se o aumento da concentração de açúcares nas uvas. Em setembro e outubro, por norma, acontecem as vindimas.

bago

Este é o ciclo ‘tradicional’ mas a verdade é que, sobretudo na última década, verificaram-se antecipações das fases referidas, com muitas zonas, como o Alentejo e a Península de Setúbal, a iniciarem as vindimas a meio do mês de agosto. Nas vindimas, como todos sabemos, colhem-se os cachos de uvas, que são constituídos pelo engaço, a estrutura (esqueleto) que prende os bagos, que representa três a seis por cento do peso total do cacho e contém taninos e pelo bago. O bago é constituído essencialmente pela película, onde estão as matérias corantes, as substâncias aromáticas e os taninos, estes diferentes dos que se encontram no engaço.

E também pela polpa, que representa cerca de 85% do total do bago e é rica em água, açúcar e ácidos. Se descascar um bago de uva tinta, verificará que o interior é incolor tal como o de uvas brancas.

E dentro da polpa encontram-se as grainhas (sementes) que são ricas em taninos e gorduras, que não têm interesse para a produção de vinho. Este é um pequeníssimo exemplo de uma parte do percurso que leva à produção do vinho.
Quando abrir a próxima garrafa, tente valorizar melhor o que vai beber, sobretudo se for bom. Ou, mais corretamente, sobretudo se lhe agradar.

 

 

 

 

 

 

 

 

IN: Jornal dos Sabores