O que distingue estas três ‘propostas alimentares’ europeias?
Em dezembro de 2013 a Dieta Mediterrânica foi inscrita como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, reconhecendo-lhe “um conjunto de saberes-fazer, conhecimentos, rituais, símbolos e tradições sobre técnicas agrícolas, pesca, criação de gado, conservação, processamento, preparação e, especialmente, partilha e consumo de alimentos”.
Neste conjunto de ‘razões’ que, como se percebe, vão muito para além da alimentação, destaca-se a “convivialidade à mesa como elemento vital da identidade cultural (…)”.
Dieta Mediterrânica
O conceito de Dieta Mediterrânica surgiu nos anos 60 e 70 da passado século XX, através do estudo dos hábitos alimentares das populações da Grécia e do Sul da Itália, de que foi responsável o médico e investigador americano, Ancel Keys.
A equipa liderada por este investigar concluiu, após percorrer os países do Mediterrâneo, que os “pobres e mal nutridos povos do sul da Europa” como os consideravam, eram afinal mais saudáveis do que habitantes das chamadas sociedades ‘mais desenvolvidas’. E foram eles próprios quem definiu a razão: “Uma dieta à base de alimentos sazonais e ricos em fibras, como pão, frutas e legumes, reduzidas quantidades de carnes vermelhas, e o azeite como principal gordura”.
Portugal, um dos países que integrou a candidatura à UNESCO, é referido como um país de caraterísticas mediterrânicas, não só pela sua história, pelas suas práticas sociais e culturais, mas também pelos seus hábitos alimentares, muito próximos de outros povos que partilham os mesmos elementos mediterrânicos que estão presentes nos traços fundamentais do clima, da geografia, da economia, da cultura e do quotidiano dos portugueses.
Este reconhecimento e a insistência na divulgação dos benefícios deste padrão alimentar são cada vez mais necessários pois a evidência científica mais recente tem vindo a alertar para uma realidade que demonstra um afastamento gradual devido, entre outras razões, à globalização dos mercados alimentares e consequentes alterações sociais, políticas e económicas que provocam (más) alteração nos hábitos alimentares.
Dieta Atlântica
A enorme popularidade conquistada pela Dieta Mediterrânica terá levado ao ‘aparecimento’ em publicações e debates, há cerca de duas décadas, de um padrão alimentar tradicional dos povos que sempre viveram nas zonas da chamada região Atlântica Europeia (Portugal, algumas regiões de Espanha, parte da França, Irlanda, Reino Unido, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega e Islândia), denominado Dieta Atlântica.Mas com as alterações nos hábitos alimentares dos povos do Norte da Europa a Dieta Atlântica está a ser ‘assumida’, fundamentalmente, pelo Norte de Portugal e o noroeste de Espanha (Galiza e Astúrias). Não admira, portanto, que o conceito de Dieta Atlântica tenha sido estabelecido definitivamente em 2003 por instituições e organizações como o Instituto Politécnico de Viana do Castelo, a Universidade de Santiago de Compostela, a Fundación Española de la Nutrición e a Associação Galega para o Estudo da Dieta Atlântica, que se uniram com o objetivo de colocar a Dieta Atlântica como uma referência mundial para uma dieta saudável.
Em dezembro de 2019, num evento no Porto, foi anunciado que Portugal e Espanha vão apresentar a candidatura da Dieta Atlântica a património imaterial da Humanidade da UNESCO, reunindo cinco entidades galegas e quatro portuguesas.
Dieta Continental
Na Europa, a Dieta Continental é geralmente considerada o tipo de alimento que corresponde ao interior do continente, fora da influência da dieta mediterrânica, associada ao sul e da Dieta Atlântica, ao norte. Corresponde a países como Suíça, Áustria, Alemanha e algumas áreas da França e Espanha, entre outros.
É fácil perceber que a principal diferença em relação às duas já referidas é a ausência tradicional de peixes de água salgada, embora atualmente a congelação e a maior facilidade de transporte altere esta situação.